O TESTEMUNHO DA DOR Ariovaldo Ramos escreve texto sobre seu divórcio

27 jul

O senhor quer se divorciar? Perguntou-me a juíza. O que deixava a situação ainda mais embaraçosa. Eu estava esperando por um juíz! Não, quem quer se divorciar é ela. Respondi!

O senhor leu os autos e está pronto para assinar o documento? Sim. Respondi, sem ênfase.

No fim, parece que era só disso que se tratava: assinar um documento.

Pronto! Meses de angústia, e de lágrimas, e de orações aparentemente não respondidas, como num passe de mágica, estariam resolvidos com uma assinatura! Eu estaria livre!

Mas quem disse que eu queria me ver livre do que quer que fosse?

Eu havia vivido mais de duas décadas só para isso. Com acertos, com erros, com pedidos e frases de perdão, eu vivi só para o casamento: todos os sins e todos os nãos que disse, os disse para continuar o casamento. Todo o processo de desmascaramento de minha imaturidade, e todo o processo doloroso de crescimento tinha como pivô o casamento.

Eu não queria me livrar disso… Eu não sabia mais viver sem isso!

Estava pronto para encaminhar a minha prole à vida, para viver a vida com quem, depois de muitas idas e vindas eu, realmente, queria viver.

O senhor já assinou? Ah! Sim. Está aqui. Respondi à voz que interrompia-me em meio a pensamentos em que eu tentava processar a minha dor.

Saí com aquele papel nas mãos, e aquele papel em minhas mãos era tudo o que eu conseguia sentir sem doer.

Não tinha idéia do que a estivesse acometendo. Não me importava! Ela quis o divórcio! Ela era a culpada!

Naquela altura eu não sabia que muita coisa iria mudar, e teria de mudar para que a esperança retomasse espaço em minha vida. A culpa seria repartida. Muita coisa que entendi resolvida por palavras ditas, ainda que com sinceridade, teriam de ser revistas por mim e em mim. Muita coisa que entendi ser de menor importância teria de ser revalorada. E muita dor que nunca entendi ter provocado teria de ser assumida.

O tempo passou! Superei! Não sem dor e não sem acabar por provocar dor em quem não tinha nada a ver com isso!

A Virgínia diz que é preferível estar no redemoinho do que no olho do furacão. Concordo! Mas do redemoinho a gente acaba por atingir gente que estava só assistindo ao tufão. E isso aumenta o lamento que a gente sabe que vai carregar.

Acalmou o meu coração! Mas se instalou um indisfarçavel medo.

Eu sou um pregador. Deus tem sido gracioso para comigo. As palavras que o Senhor tem me dito têm calado no coração de muitos irmãos e irmãs. E isso é um grande consolo. Mas, apesar disso, toda a vez que subo ao púlpito, que me é sagrado, sinto que, por mais aceito que eu seja, eu carrego um estigma, e não consigo tirar a dor de meus olhos, porque eu sei que eles estão certos, eu passei por algo que eles não querem passar e não sabem como isso pode acontecer com alguém que precisa estar no púlpito.

Pois é, minha amiga… Eu sei, eu sei!

Mas a roda tem de girar, e gira, e Deus, que ama, nos alenta e nos faz ver o sentido que transcende!

Parabéns! É isso! É preciso exorcizar tudo o que tenta nos roubar a identidade.

Muitos serão ajudados!

Quarta Capa – Meu texto para o livro, sobre o divórcio, de Virgínia Martin
http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=14628

TRIBUTO A UM AMIGO -Staffan Karl Olov Söderberg.

22 jul

Hoje perdemos um amigo, um grande amigo, amigo de infância.
Uma das pessoas mais congruentes que conheci.
Amava à Deus, sua Lela , filhos, família, amigos e profissão.
Inteligente, radical, carismático, tinha brilho próprio.
Teimoso e coerente, não se vendia nem se dobrava à interesses.
Poderia ter ficado rico, preferiu permanecer íntegro.
Quando o visitei pela última vez, já em tratamento, tinha o mesmo olhar penetrante, sorriso largo, simpatia de sempre.
Operou poderosos e centenas pelo SUS, sem distinção.
Cuidou da minha mãe, cuidou de nós.
Viveu e trabalhou sob a ótica e ética da ternura e misericórdia de Cristo, de quem foi discípulo.
“E Deus para Sí o tomou”.
Lela querida, Felipe e eu continuamos chorando. Amamos vocês.
(Era isso que eu gostaria de ter dito no sepultamento.)
grande abraço,
Roseli

Exigências da vida moderna…

18 jul

(texto atribuído ao L.F.Veríssimo, mas que ele mesmo disse não ser dele, mas de qualquer forma, divertido!)

Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C.

Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água.
E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também.
Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.
Um copo de cerveja, para… não lembro bem para o que, mas faz bem.
O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra.
Muita, muitíssima fibra
Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada.
Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia.

E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.
Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia.
Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo.
Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina.
Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução.
Isso leva tempo e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação

Na minha conta são 29 horas por dia.

A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!!!

Tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos e seus pais.
Beba o vinho, coma a maçã e dê a banana na boca da sua mulher.

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.

Agora tenho que ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.

E já que vou, levo um jornal…

Tchau….

Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.

A ÉTICA DO CUIDADO NO CUIDADO A CUIDADORES

14 jul

CUIDADORES FREQUENTEMENTE ESQUECEM DE SI MESMOS. APRENDA A CUIDAR DE SÍ MESMO !!

Hello world!

14 jul

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Filme “Homens e Deuses” O amor é mais forte do que a morte

8 jul

O contrário do medo não é a coragem, mas sim a fé. Dirigido pelo diretor francês Xavier Beauvois e escrito por ele e Etienne Comar, também produtor do filme, “Homens e Deuses” é baseado na história real de nove monges franceses, sete dos quais foram seqüestrados e assassinados na Argélia em 1996. O episódio é um dos pontos culminantes das atrocidades que aconteceram naquele país africano, resultado do confronto entre o governo e os grupos extremistas que queriam tomar o poder. Destacam-se a fotografia e o ótimo elenco, com Lambert Wilson (Pe. Christian – prior da Comunidade) e Michael Lonsdale (Ir. Luc – médico), entre outros.
O filme cobre um período que vai de 1993 a 1996, e mostra o cotidiano dos monges do Mosteiro Trapista de Atlas, fundado na década de 60, numa remota localidade no norte da Argélia, próximo a cidade de Tibhirine. O prior da comunidade, Pe. Christian de Chergé, foi uma figura muito carismática, eminente arabista e islamista. Os monges criaram no local uma vida de grande convivência com os vizinhos muçulmanos, trabalhando com estes e atendendo às suas necessidades médicas básicas. O longa-metragem mostra ainda o interesse da comunidade monástica pela espiritualidade do islã porque, sendo católicos, acreditavam que o mistério de Deus poderia também ser tocado no povo desta religião.
Embora a convivência entre monges e comunidade local fosse muito boa, a tranqüilidade daqueles começa a entrar em xeque na década de 90, quando é iniciada uma disputa entre diversas facções políticas na Argélia: governo, socialistas, muçulmanos e extremistas, conflito que culminou com o assassinato, em 1993, de um grupo de trabalhadores europeus (croatas).
É então que começa o drama do filme: se os monges devem ficar e aceitar um possível martírio ou se devem voltar para a França. Os monges, que prestavam assistência à população pobre, passam a defendê-la ostensivamente dos abusos de que eram vítimas. Colocam-se em rota de colisão tanto contra os radicais como contra o governo, que tenta repatriá-los para evitar problemas diplomáticos. Talvez devido em parte ao drama pessoal de cada monge sobre ficar ou partir, discernir e aceitar a vontade de Deus, decorre que, de certa forma, “Homens e Deuses” seja um filme de espera. Os monges estão ameaçados, recusam-se a abandonar o país e também não querem proteção do Exército, o que os afastaria da população. Beauvois explora esse clima de ansiedade, esperança e misticismo, que expõe algumas divisões no interior do mosteiro. Alguns deles querem partir; a maioria quer ficar. Querer ou dever? É o sentido do dever que se impõe entre eles. Um dever que nada tem de abstrato, mas que é sustentado por uma crença e ética definidas: a estabilidade monástica e a própria vocação religiosa de cada monge. O pano de fundo é o medo e o seu oposto: a fé.
O filme é também, em grande parte, sobre a história da conversão de Christian, que começa como uma figura um pouco autoritária e individualista: no início do filme quando ocorre o referido assassinato dos trabalhadores europeus, o exército quer montar guarda junto ao mosteiro, para protegê-los. Sem consultar a comunidade, o prior toma a decisão de que isto não convém, pois iria afastar o povo local do mosteiro. Então ocorre uma reunião dos monges (capítulo) e estes dizem ao prior que não o elegeram para tomar sozinho todas as decisões. Este é o grande desafio de um superior religioso: como seguir a luz da própria consciência e ao mesmo tempo ser aberto e ser sensível à intuição de cada um. Com o desenrolar do filme o prior aprende que só quando todos os irmãos estiverem de acordo é que será possível tomar uma decisão. Admira, nesse papel, o seu modo de aos poucos se colocar cada vez mais à escuta dos seus irmãos monges, particularmente nos momentos difíceis. Ele não quer impor. Ele está à escuta. Sente-se que ele tem pleno respeito pelos monges. Vê-se o pastor e a sua preocupação de se abrir a Deus, para se deixar trabalhar por Deus e ter a reação certa perante os irmãos monges. Em todo o filme, vê-se essa abertura a Deus; ele se interroga e se deixa influenciar por Ele. Isso é próprio do monástico. No momento de maior discernimento e dúvidas na comunidade é interessante ver a imagem do prior caminhando no campo junto a um rebanho e seus pastores muçulmanos.
Um dos ápices da trama é a “última ceia”, ao som de “O Lago dos Cisnes” de Tchaikovsky, quando o diretor fecha um close em cada ator, em seus rostos, e já podemos encontrar o sinal de um desfecho nada feliz que culminará com o seqüestro e morte de sete dos nove monges em 21 de maio de 1996.
O filme é capaz de comover tanto aos crentes quanto aos agnósticos, por enaltecer homens que se comportam com determinação até o fim, em nome daquilo que acreditam; humano é preservar a vida a qualquer custo, e por isso as perguntas surgem no interior do grupo: não deveríamos nos guardar para que possamos ser úteis no futuro ao nosso semelhante e à nossa fé? Mas divino é ir além das justas dúvidas e prosseguir seu caminho. A fé no transcendente é poderosa aliada, ao apontar a transitoriedade da vida terrena, quase insignificante diante da eternidade.

Da Adélia Prado, lindo demais!

28 jun

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

By JUNG!!

25 jun

Precisamos ler a Bíblia ou não entenderemos psicologia.Nossa psicologia, vidas, linguagem e imagens foram construídas sobre a Bíblia.C.Jung

Poema para um amigo

23 maio

o que você tem feito?
tem feito a cabeça,
as idéias, os sonhos de alguém?
qual é mesmo o seu jeito,
objeto, sujeito, espírito,
matéria,
já chegou a ninguém?
inventou sua quimera,
é o mal, é o bem?
tem juízo perfeito,
acredita em vida eterna?
disse ou não disse amém?
vai ficar, ou é de férias
que você vem?

(Alice Ruiz)

A síndrome de Burnout

19 maio

Entrevista com Roseli Kühnrich de Oliveira
Publicado em 17.05.2011
O esgotamento das pessoas, causado por sua ocupação ou atividade é uma situação cada vez mais comum, e vem recebendo da psicologia e medicina o nome de Síndrome de Burnout (do inglês: to burn out , significando combustão completa).
Você se sente estressado? Nada do que faz traz realmente a mesma satisfação que sentia? Está irritado, desanimado, com problemas relacionais e não consegue mais dar a atenção que dava às atividades diárias? Está com fadiga, dores generalizadas e evita o contato social? Talvez você esteja com a síndrome de Burnout.
Burnout é uma das conseqüências mais marcantes do estresse profissional, caracterizando-se geralmente por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos (até como defesa emocional).
Buscando informações seguras sobre a síndrome é que entrevistamos a psicóloga Roseli de Oliveira.
Roseli Kühnrich de Oliveira é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP) de São Paulo, Especialista em Terapia Familiar e com Mestrado em Teologia pela Escola Superior de Teologia (EST), no Rio Grande do Sul. Vice-presidente do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC Sul), e membro da Associação de Assessoramento e Pastoral da Família (EIRENE).
Autora do livro “Cuidando de quem Cuida: um olhar de Cuidados aos que ministram a Palavra de Deus”, Editora Sinodal e co-autora em De Bençãos e Traições, a história das famílias de Abraão, Isaque e Jacó, Ed. Ultimato/ Esperança.

Como identificar se uma pessoa está estressada ou com a síndrome de burnout? Quais as diferenças entre eles?

Roseli – Uma síndrome se caracteriza por alguns componentes, no caso do burnout, são os três que explicaremos a seguir. Esta síndrome é uma “doença do trabalho”, ou seja, começou a ser pesquisada justamente por envolver um adoecimento ligado ao labor ocupacional. Os sinais e sintomas nos estágios iniciais são praticamente os mesmos do estresse e da depressão. Esta só se efetiva nos estágios mais avançados da doença, apresentando características próprias. No 1º estágio, há um crescente e gradual desânimo ou desprazer em relação às atividades laborais. No 2º estágio, surgem dificuldades relacionais no local de trabalho, tensão, mal estar, faltas, dores generalizadas. No 3º, os lapsos de memória e a atenção difusa comprometem a qualidade do trabalho, gerando erros incomuns à pratica anterior. Aparecem as doenças psicossomaticas, com consequente automedicação e/ou uso de drogas e alcool.
Os sinais e sintomas aqui apresentados não representam, necessariamente, que a pessoa esteja em burnout, podendo ocorrer variações diversas entre pessoas com mesmo quadro sintomático. Entretanto, se você apresenta vários destes sintomas, procure ajuda, é sinal que algo não vai bem! Entre os sintomas físicos destaco: Exaustão (esgotamento físico temporário); fadiga (capacidade física ou mental decrescente); dores de cabeça; dores generalizadas; alterações digestivas, do sono e sexuais, alergias.
Os sintomas psicológicos podem indicar depressão, irritabilidade; ansiedade; inflexibilidade; perda de interesse; descrédito na instituição e nas pessoas.
Sintomas comportamentais: Evita os irmãos e o contato social; usa críticas, reclamações, adjetivos depreciativos; resiste à mudanças, transfere responsabilidades; descuida de si mesmo, do lazer, faz auto medicação ou uso de bebidas alcoólicas, ou estimulantes, apresenta comportamentos de fuga (jogos, celular, internet, pornografia, etc.) e recusa ajuda.
“O termo “burnout” foi utilizado nos anos 70, para a chamada síndrome da desistência, de exaustão ou de consumição. Em 1986 Malasch e Jackson desenvolveram uma definição multidimensional que inclui três componentes: exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal”. Poderia falar sobre cada um destes componentes?
Roseli – A exaustão emocional deixa a pessoa sem “lastro”, irritada, hipersensível, sem forças para fazer o que anteriormente fazia. É um cansaço maior que o cansaço físico, pois envolve lapsos de memória, “ausências – brancos” ou desconcentração. Uma enfermeira comentou: preparar uma injeção se tornou uma tarefa pesada demais e eu antes fazia dezenas por dia, como pode?
A despersonalização no trato se refere a dificuldade de relacionamento com colegas de trabalho, familiares ou com as pessoas que seriam as que deveriam receber seus cuidados! Um médica que estava em Burnout disse: Quando eu dei por mim, estava gritando com a mãe de um paciente! Me desconheci e me assustei comigo mesma!
A redução da realização pessoal – lembremos que estamos falando de uma síndrome ligada ao trabalho – faz a pessoa pensar em largar a profissão, mesmo depois de anos de estudo e investimento. Aparentemente há uma saturação que rouba a alegria. O trabalho antes prazeiroso se torna um fardo, uma obrigação desagradável. Um pastor relatou: eu chegava perto da igreja, antes do culto e chorava de desespero, até que um dia disse pra minha mulher: nunca mais eu entro lá, nunca mais quero fazer isso!
Você acredita que tem aumentado o descuido do cuidador com ele próprio?
Roseli – Sem dúvida! Quase sempre trabalha-se muito “com a cabeça” e pouco com o corpo! Cada vez mais o acesso à Internet torna as pessoas ainda mais sedentárias, isoladas e cansadas! Passamos por cima das necessidades básicas e dos ritmos do nosso próprio corpo. Pulamos refeiçoes, comemos mal e apressadamente, não mantemos exercicios físicos regulares, dormimos pouco e mal, e não nos divertimos. Isso é escravidão, estamos no Egito.
Quais os fatores desencadeantes da síndrome? Quais são os candidatos potenciais para desenvolver a síndrome?
Roseli -Confundida normalmente com o estresse, a síndrome é uma doença ainda pouco conhecida que provoca esgotamento físico e mental e atinge profissionais que trabalham diretamente com situações de conflito, principalmente nas áreas de segurança, saúde e educação, e com pessoas em sofrimento. Os fatores desencadeantes são em geral, sobrecarga de trabalho e, ou, frustração por não atingir as metas propostas, dedicação excessiva ao trabalho (com dificuldade para ter um lazer ou ócio e estar com a família), e falta de autonomia em situações de grande responsabilidade. Na síndrome de Burnout, há um componente relacionado com o ambiente de trabalho, pois o fator gerador da síndrome está não apenas no volume, mas principalmente no ambiente de trabalho. Assim, o paciente que tem o estresse clássico pode se recuperar depois de um período de férias, mas não o portador de Burnout, porque os problemas voltam quando ele retorna ao trabalho.
O que fazer se o pastor/líder está com a síndrome? No que consiste o tratamento?
Roseli – Em geral, tratamento medicamentoso além da psicoterapia. Trabalha-se dentro de uma visão multidisciplinar, que pode incluir outras ajudas, como a fisioterapia, nutrição e avaliação de personal trainer, mentoria, etc. Busque auxílio médico para proceder a avaliação e intervenção adequadas.
Você acredita que todos “os pastores e líderes precisam de um Jonatas (amigo verdadeiro), um Barnabé (que simboliza o apoio necessário à atividade pastoral) e um Moisés (autonomia imprescindível para o desempenho das funções), e que é neste tripé de amizade, apoio e autonomia que encontram-se recursos de estruturação psíquica para o desempenho das funções pastorais” e de liderança?
Roseli – Bons amigos ou a interação prazerosa com outras pessoas estimadas libera a ocitocina, conhecido popularmente como “hormônio da amizade”, que ajuda a diminuir o cortisol, que é o “hormônio do estresse”. Costumo dizer que nossa saúde não vem atreladas a grandes gastos, na verdade, amigos e caminhadas são grátis! Investir em amizades e gente competente para dividir tarefas é primordial. Um pastor relatou: A exposição de fraquezas e limitações abre a ferida narcísica deste líder, fragiliza a imagem onipotente que tanto ele como a congregação idealizou e ameaça o exercício do poder, onde muitos lêem, ameaça o exercício do ministério. A realidade, no entanto é implacável e sempre nos lembrará de nossas limitações, se o ministro não puder vivenciar o seu lado humano, ele certamente ficará enfermo.
Em sua pesquisa de campo, para sua dissertação de mestrado em Teologia, você verificou que a síndrome de burnout está justamente nos primeiros anos de pastorado. Este é um dado que continua igual ou foi alterado? Há outras pesquisas e dados sobre o burnout em ministros religiosos? Por que ela é mais comum em pastores recém-formados?
Roseli -Uma pesquisa nos EUA, em 2001, entre mais de 2.500 lideranças religiosas cristãs, realizado pela Duke Divinity School, mostrou que 76% do clero cristão estava acima do peso ou obesos. E outra pesquisa mostrou que o clero de todas as religiões apresenta taxas mais elevadas de obesidade, hipertensão, diabetes e outras doenças do que os seus fiéis. Em alguns países, os seguros de vida para pastores são mais caros, sendo o pastorado considerado “profissão de perigo”!
Em geral, os jovens pastores são avaliados quantitativamente e isto é um erro.
Penso que pastores/as jubilados/aposentados poderiam ser mentores dos jovens. Isso ajudaria a todos/as, os novatos/as se sentiriam mais seguros e os mais experientes não se sentiriam descartados. As instituições e igrejas economizariam e mais que isso, preservariam o potencial humano.
Como as Faculdades de Teologia podem auxiliar na prevenção da síndrome de Burnout?
Roseli – A princípio, a formação integral dos pastores é um dos objetivos a buscar! Sou professora em diversos seminários e percebo que o enfoque continua sendo o “pensar teológico” apenas! Poucas “escolas de profetas” se preocupam com a saúde física e emocional dos futuros obreiros. Na verdade, penso que os seminários são um reflexo das denominações e igrejas. Pouco se investe na pessoa do pastor/a. A cada dia escuto histórias de dores,angústias, adoecimentos na esfera pastoral. Muitos fazendo ” bobagens” por conta do cansaço, desamparo e falta de preparo integral. E que preço pagam pelos erros! Durante muito tempo, o sacrifício pessoal e a falta de cuidado de si mesmo entre os pastores foi considerado uma espécie de virtude. Penso que se pode ajudar os futuros pastores a enxergar o homem com um todo (e não só as necessidades espirituais) e os seminários podem sugerir um mentor ou capelão, para ajudá-los a enxergar a própria finitude e limitação.
Quais os seus conselhos para pastores e líderes?
Roseli – Cuide-se ! Ninguém, fará isso por você! O seu corpo é Templo do Espírito! Zele por ele!
Dicas: programe seu dia e semana com intervalos. Chegue primeiro na sua agenda, antes que os outros cheguem. Marque seus dias de descanso na agenda e priorize -os. Preserve seu dia de descanso, mantenha SUA comunhão com Deus. Pastores/as em geral caem em ativismo, não priorizam tempo de oração e meditação da Palavra. A Bíblia se torna instrumento de trabalho e não de comunhão pessoal com o Senhor. Na minha pesquisa, vários afirmaram ter pouco ou nenhum tempo de oração e leitura pessoal da Palavra, sempre que liam a Bíblia era com objetivo de preparar um sermão ou palestra. Pratique atividade física regular, pois ela libera hormônios essenciais para a saúde do corpo e da mente.
Procure não se medir pelo desempenho dos colegas ou estatísticas de “igrejas vencedoras” . Isso é pornografia eclesial: gera cobiça e desdém pelo que se tem em mãos. Procure a competência e excelência no seu trabalho, não competição.
http://www.institutojetro.com/